" Só se vê com o coração. O essencial é invisível aos olhos. " (O Pequeno Príncipe)

Não pense que escrevo aqui o meu mais íntimo segredo, pois há segredos que eu não conto nem a mim!

" o maior favor que se pode fazer a semente é enterrá-la."

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dois R e uma dor.



As pessoas te olham, estão ao teu lado, por vezes te amam, mas não te conhecem. Tantas vezes a gente tem que ouvir e por amor, nada falar. A gente tem que aprender a perdoar, aprender que eles não são como nós e nem sempre têm esse olhar tão perspicaz sobre tudo, sobre o mundo. A gente tem que aprender a lidar com crises, superar os medos sem se deixar abater tanto... A gente tem que ver que ninguém morre de amor aos quinze anos de idade. O seu namoro acabou e tem gente esperando numa fila por um transplante, gente esperando pela morte numa fileira de macas no corredor de um hospital superlotado. Você enfrenta filas pra tudo nessa vida, a fila do amor-sincero-que-dura-eternamente é bastante grande. Espera. A gente tem que aprender a se livrar do que é banal, do que não te acrescenta, só diminui. Do beijo do cara bonitão que não te liga no dia seguinte e te deixa uma semana se sentindo um lixo, incompleta. A gente tem que aprender, por Deus, que quantidade não é qualidade. Tem que ter amor próprio, tem que aprender a conter o choro, tem que saber em quem confiar. A gente tem que largar mão de toda essa alienação, pensar com a própria cabeça, tem que voar com os pés no chão. Sabe o que é pior? Tem gente que julga muito a gente por não sermos nós os heróis a conseguirmos cumprir tantos ditos, conseguirmos concretizar tantos planos. E eu escrevo e releio mil vezes, tentando convencer a mim mesma que conseguirei. E repito mais mil vezes pro meu reflexo no espelho que não vou me apegar tanto, que vou me importar menos, que vou segurar a barra e todas as lágrimas. E eu consigo, minha superfície permanece intacta. Meu coração, em contrapartida, entra num processo de autodestruição. E dói ver que o passado me atormenta novamente, dói demais reviver tudo de ruim que outrora por pouco não fez de mim um pó. Dói fingir que estou bem por ser minha a função de bancar a muralha protetora. Sabe um muro de uma casa, dos mais altos, cheios de arames farpados? Ele protege os outros enquanto agüenta sol, chuva, pragas... É mais ou menos assim que eu me sinto. Sou forte, mas o reboco tá descascando, alguns tijolos estão caindo e ao mesmo tempo em que sinto que estou pendendo e indo ao chão, preocupo-me demasiadamente em saber em que lado cairei, a que pessoas machucarei.  E eu não consigo não ser assim. Por mais que eu saiba que é idiotice ser coração demais e até te diga que amor-próprio não é sinônimo de egoísmo, eu sempre vou pensar em alguém antes de mim (e te juro, não falo aqui de nenhum amor platônico). Porque eu me conheço e sei mais do que ninguém que para mim, maior que a dor da minha queda é a partitura de um coração que reciprocamente me ama. Aí eu olho pro espelho e insisto dizendo que tudo vai passar, que a paz tornará a reinar. Aí eu lembro das filas, da espera angustiante e ponho em mente a ideia de que o sol vai voltar e uma luz lá de cima me iluminará. Eu queria que fosse só mais uma parte de um dos pesadelos que constantemente têm atormentado as minhas noites, mas tudo isso pode ser resumido em duas palavras: ruim, realidade

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